Desde a queda de Adão e Eva no paraíso, continuamos com a mesma crise que nos levou à decadência e à morte: querer ser como Deus. “A serpente disse então à mulher: ‘Não, não morrereis! Mas Deus sabe que no dia que dele comerdes (fruto), vossos olhos se abrirão e vós sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal.’” Gn 3,5
Esta pequena reflexão é tecida no dia que a Igreja nos apresenta a solenidade de Cristo Rei do Universo. Ele sim, verdadeiro e justo juiz, que virá para julgar vivos e mortos, só a Ele cabe esta missão. Mas, para nosso lamento, desde fofocas e levianas acusações ao aterrorizante caso do espancamento e morte no Carrefour, vemos o homem que se sente como Deus, capaz de decretar a sentença e aplicá-la em um piscar de olhos.
Não se trata de acobertar os erros ou colocar panos quentes, mas o fato é que nós erramos sempre. E não nos foi dado o papel de juízes do outro, independente que erro ele tenha cometido. Fazer justiça com as próprias mãos é arrogar o trono de Deus para si, nele se sentar e agir como juiz do mundo, como se a nossa pobre miséria fosse referência para medir o mundo inteiro.
A soberba é o triste pecado que nos leva a querer ser superiores a todos e nos cega ao ponto de nos sentirmos capazes de ser juízes e reis supremos da razão. Se alguém errou entre nós, dentro de cada esfera seja entregue à autoridade competente. No trabalho, para o chefe; em casa, para os pais; como cidadão, para a polícia; na Igreja, para o Padre ou Bispo. Mas nunca queira apoderar-se do fardo de ser juiz do que não lhe compete. Pergunte a qualquer pessoa séria que possua autoridade sobre outras pessoas, vai lhe dizer que a parte mais difícil de ser líder é ter que exercer o julgamento e a correção. Se é difícil para quem possui a autoridade, imagina para que não a tem!
Não há justificativas para espancamento rude e quase ao estilo pré-histórico. Triste notar que isto acontece com muito mais frequência contra negros do que contra brancos. Oxalá não acontecesse com ninguém, mas ainda é mais frequente contra negros. A força só se exerce na razão e proporção ao evento que se dá. A força que brota da justiça procura evitar o mal e nunca causar um mal ainda pior.
A eloquência de um espancamento gravado condói nosso coração, mas é preciso trazer para nossa vida e meditar se esta violência contra o próximo não reside em nosso coração e na nossa língua. Cristo é o único capaz de julgar com justiça e misericórdia, só Ele conhece os corações. Fuja da tentação de julgar. É um ato de caridade e inteligência, pois “não julgueis e não sereis julgados; não condeneis para não serdes condenados; perdoai, e vos será perdoado.” Lc 6, 37
Não se engane com a Misericórdia Divina, Ela também exerce a justiça, e na balança de Deus, quem poderá passar? Desça do trono que não te pertence, pratique o bem, desaprove o mal, mas não queira ser juiz de ninguém, pois foi aí que a serpente introduziu no mundo o pecado e a morte.
Viva Cristo Rei do Universo. O único Senhor dos Senhores.
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